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O relato de Kamila Kuester, de 21 anos, remete às marcas do acidente que sofreu há um ano, no km 77 da BR-101, em Araquari, e que resultou na morte de sua melhor amiga, Mayara Stinghen, 24. As duas são vítimas de uma realidade enfrentada por milhares de pessoas nas rodovias estaduais e federais do Norte Catarinense, ano após ano.
– Tem uma frase que diz que as cicatrizes são para mostrar que somos mais fortes do que aquilo que nos feriu. Hoje, gosto das minhas por que para mim isso não é nada, é uma marquinha para eu não esquecer tudo o que passei.
Kamila e Mayara estão entre as vítimas dos acidentes registrados em maio de 2016, nas BRs 116, 280 e 101 da região. Naquele mês, foram registrados 173 acidentes, 122 feridos e sete mortos, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Neste ano, o número de acidentes em maio, segundo a PRF, foi maior no trecho de 496 quilômetros das rodovias federais da região: 182 ocorrências registradas, com 139 pessoas feridas e 14 mortas.
No mês passado, em meio a campanha Maio Amarelo, que tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a violência nas estradas, em apenas dois acidentes na região, o número de vítimas fatais chegou a dez pessoas, sendo que desse total, sete eram menores de idade. Um dos acidentes aconteceu no dia 13 de maio, na SC-416, em Itapoá, uma rodovia estadual, e o outro no dia 28 de maio, na BR-280, entre Jaraguá do Sul e Corupá.
O primeiro envolveu uma família que residia em Itapoá. Na ocasião, o veículo Gol conduzido por Gilson Pedro Mineiro, 39, colidiu contra um caminhão no km 18 da SC-416. Ele, a mulher Mariluz Araújo, 30, os dois filhos deles e um sobrinho, morreram. Um menino de 12 anos, filho do casal, sobreviveu e continua internado no Hospital Infantil de Joinville, quase um mês depois do acidente.
A outra colisão grave foi registrada no km 78 da BR-280, entre Jaraguá do Sul e Corupá, há cerca de dez dias, e envolveu os veículos Pampa, conduzido por Alexsander Leal dos Santos, 21, e um Renault Clio guiado por Zenivaldo Lourenço da Luz, 25.
A mulher de Zenivaldo, Elenice da Rosa, 32, e os três filhos do casal, de 11, sete e um ano de idade, morreram no local do acidente. Os dois motoristas sobreviveram. Alexander teve alta no dia 31 de maio, e Zenivaldo continua internado no Hospital São José, em Jaraguá.
Acidentes e mortes caem nas SCs
Apesar do crescimento de acidentes fatais no mês de maio, os números da PRF e da Polícia Militar Rodoviária Estadual (PMRv) mostram uma redução de colisões e mortes no comparativo entre 2015 e 2016, tanto nos trechos de rodovias federais quanto nos de estaduais, que compreendem as SCs 415, 416, 417, 418, 108 e acesso ao distrito industrial de Joinville.
Ao todo, no ano passado, foram registrados 2,7 mil acidentes nessas rodovias e 104 mortes. Em 2015, houve 3,7 mil ocorrências e 167 mortes. Conforme o chefe do Núcleo de Comunicação a PRF, Adriano Fiamoncini, a partir de julho de 2015, os acidentes sem vítimas, com poucos danos materiais, puderam ser registrados pelo próprio motorista por meio de uma declaração de acidente eletrônica (E-DAT). Isso acarretou em uma grande diminuição do número de acidentes de 2015 para 2016, no entanto, não afetou o número de acidentes com vítimas, que permanecem sendo registrados da mesma maneira.
A PRF e a PMRv apontam excesso de velocidade, desatenção e desobediência à sinalização como algumas das principais causas para acidentes. Para que haja redução neste quadro, segundo Fiamoncini, é preciso realizar um trabalho simultâneo com três pilares de segurança: educação para o trânsito, fiscalização e infraestrutura. Seguir orientações e cuidados básicos também ajudam a evitar os acidentes.
Ganhei uma chance, diz Kamila
Adotar medidas de segurança antes de viajar já faz parte da preparação de Kamila Kuester antes de pegar a estrada. Mesmo não recordando do dia e das causas do acidente pelo qual passou, ela não abre mão de hábitos como o uso do cinto de segurança por parte de todos os ocupantes do veículo.
O acidente que marcou sua vida aconteceu na manhã do dia 29 de maio de 2016, quando ela e duas amigas retornavam para Jaraguá do Sul após fazerem uma viagem a Balneário Camboriú. O carro em que viajavam bateu às margens da BR-101, próximo ao pedágio de Araquari, em uma manhã de domingo.
Com a colisão, Mayara Stinghen não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Kamila teve traumatismo craniano e ficou 14 dias internada no hospital, oito deles em coma. Hoje, sem recordar da data, tudo o que sabe é o que ouviu de amigos e da família ou leu na internet.
– Fiquei de 15 a 20 dias sem entender o que tinha acontecido. Minha mãe diz que eu me olhava no espelho e perguntava para ela todo dia quando acordava: `Mãe, então é verdade o que vocês falaram do acidente?¿ Ela me explicava, só que eu não conseguia aceitar. Acordei para a real mesmo um mês depois do acidente. Primeiro a gente pensa em se entregar para a dor, não tinha dor física, mas o coração doía. Aos poucos, a gente se recupera com a ajuda da família, dos amigos. Hoje, acho que estou forte e tento seguir a minha vida – conta.
Depois que entendeu o que havia acontecido, e já em recuperação, Kamila conta que acessou as redes sociais e leu vários dos comentários que a julgavam. Para superar tudo isso, ela recebeu a ajuda de um psicólogo, de amigos, da família e dos pais de Mayara, que prestaram apoio a jovem.
– Devo boa parte a minha recuperação a eles. Se eles me julgassem, acho que não estaria tão bem. Como eu estava no volante, muita gente me julgou e ninguém estava lá. Falaram muita coisa, que eu estava bêbada, que dormi, que bati porque fui trocar a música do carro, que estava no celular. Como é que alguém pode falar isso? Uma de nós três podia falar isso. Eu e a Andressa não lembramos, e a Mayara não está mais aqui para contar. As pessoas acabam se tornando ignorantes porque julgam uma pessoa. É algo muito sério, isso mexeu com três vidas e tirou uma vida da gente – emociona-se.
Lembranças da amiga
Nove meses após a tragédia a jovem voltou ao trabalho e à vida normal. Hoje, um ano depois, ficou a saudade e as lembranças boas da amiga de infância que se foi. Recordações que ela revive por meio de fotos e de homenagens.
– Ficou a saudade. Eu sei que ganhei uma chance, que Deus me deu mais uma oportunidade de continuar vivendo. A gente costuma ver só o lado ruim do que acontece, mas meu psicólogo falou que nada é 100% ruim e, de tudo o que acontece, tem pelo menos 10% de bom. Eu não entendia isso porque podia ter morrido também ou ter ficado com muitas sequelas, só que graças a Deus eu estou bem. Ele (Deus) salvou a vida da Andressa também e esse é o 10% bom da tragédia, por que a gente começa a valorizar muito a família e as pessoas que realmente importam – desabafa.
FIQUE ATENTO
Orientações e cuidados para uma viagem segura:
Verifique as condições do seu veículo, tais como parte mecânica, freios, sistema iluminação e pneus.
Regularize seus documentos de porte obrigatório, evitando desta forma situações desagradáveis no seu passeio.
Motorista e passageiros, todos devem utilizar o cinto de segurança.
É obrigatório o uso do farol baixo em todas as rodovias.
Só ultrapasse em locais permitidos e com segurança.
Mantenha a velocidade regulamentar para a via.
Se consumir bebidas alcoólicas, não dirija.
Lembre-se que gentileza gera gentileza: seja paciente e cortês no trânsito.
Fonte: DC
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