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O número de infecções pelo HIV entre pessoas de 20 a 34 anos em Santa Catarina saltou de 757 em 2014 para 1.051 em 2015 e 1.080 em 2016, um aumento de 43% em três anos. Esse grupo correspondeu a mais da metade do total de 1.974 ocorrências envolvendo o vírus da aids registrados no Estado no ano passado, de acordo com os dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive). Os dados chamam atenção para a necessidade de prevenção na data marcada pelo Dia Mundial de Luta Contra a Aids.
Para a gerente de vigilância das doenças sexualmente transmissíveis, aids e hepatites virais da Dive, Dulce Quevedo, os dados sobre a doença indicam duas realidades distintas. Ela lembra que a notificação dos casos passou a ser obrigatória somente em 2014.
— Por um lado, estamos ampliando o diagnóstico precoce do HIV, a partir da maior adesão de gestores, profissionais de saúde e cidadãos ao Teste Rápido. Por outro, comprovamos que a maioria das pessoas continua se descuidando da prevenção, ou seja, não está usando preservativo nas relações sexuais — detalha.
Uma pesquisa divulgada nesta semana comprova a pouca preocupação em relação ao uso da camisinha. Os resultados preliminares do estudo POP-Brasil, do Ministério da Saúde, indicam que somente a metade dos participantes do levantamento, que têm idade média de 20,6 anos, afirma usar o preservativo frequentemente. Quando questionados a respeito da utilização na última vez em que fizeram sexo, só 41,1% disseram que sim.
Segundo Dulce, apesar de todos os avanços em pesquisas e métodos de prevenção, o uso da camisinha – masculina e feminina – continua sendo a forma mais simples e eficiente de proteção contra o HIV, além de funcionar como barreira para outras 11 infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, hepatites virais e gonorreia.
O professor de infectologia da Universidade Vale do Itajaí (Univali), Pablo Sebastian Velho, acrescenta que devem crescer os casos de coinfecção nos próximos meses, já que a sífilis, por exemplo, aumenta em 18 vezes o risco de contrair o HIV. Para o especialista, é preciso reconhecer a individualidade de cada pessoa e dar alternativa de proteção para quem recusa a camisinha.
— O poder público precisa estimular as pessoas a pensar em prevenção de forma mais ampla. Também precisa respeitar quem não usa preservativo e, em contrapartida, oferecer outras opções, como as profilaxias pós e pré-exposição. Além disso, é necessário pensar em HIV/aids para além do fim do ano e do Carnaval — critica.
Em relação aos casos de HIV notificados em 2016, o segundo grupo com maior incidência foi o de pessoas de 35 a 49 anos (578), seguido pelos grupos de 50 a 64 anos (192), 15 a 19 anos (92), 65 a 79 anos (30) e de 10 a 14 anos (2). A região com o maior número de casos foi a Grande Florianópolis (517), seguida pela região da Foz do Vale do Itajaí (407) e pelo Médio Vale do Itajaí (231).
Medicamento chega a Florianópolis na semana que vem
Florianópolis é um dos 12 municípios brasileiros a iniciar a distribuição da chamada Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicamento capaz de prevenir a transmissão do vírus HIV. O trabalho será iniciado na Policlínica do Centro assim que o Ministério da Saúde disponibilizar aos municípios o medicamento. A pasta garante que a distribuição acontecerá na semana que vem, já que o remédio, que é importado, já chegou ao Brasil.
As pessoas que receberão o medicamento são aquelas consideradas vulneráveis à exposição do HIV, análise que será feita pelos profissionais da Secretaria de Saúde da Capital, respeitado o protocolo do ministério, que contempla homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes (quando uma das pessoas tem o vírus e a outra não). Quem receber a PrEP deverá tomar diariamente o comprimido após buscá-lo a cada mês, quando haverá consulta médica de acompanhamento. A substância, que funciona como uma barreira contra a infecção, é indicada apenas para quem não teve nenhum tipo de contaminação prévia com o vírus.
Dados do Ministério da Saúde mostram que a eficácia e a segurança da PrEP foram comprovadas por estudos científicos e podem reduzir a infecção pelo HIV em mais de 90%. Mesmo assim, ela não substitui as outras medidas de prevenção, como uso de camisinha — masculina ou feminina — a testagem feita regularmente e durante o pré-natal, redução de danos para uso de drogas, entre outras.
Registro de novos pacientes cai em 10 anos
Pessoas infectadas pelo vírus HIV não necessariamente terão aids no curto ou médio prazo. Apesar da possibilidade de interromper o desenvolvimento da doença, um paciente contaminado pode transmitir o vírus.
— A doença pode demorar até dez anos para se manifestar. Ao desenvolver a aids, o HIV inicia um processo de destruição de um dos tipos de glóbulos brancos do organismo da pessoa doente, os linfócitos T CD4 (ou simplesmente CD4). Como esses glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico dos seres humanos, sem eles o doente fica desprotegido e várias doenças oportunistas podem surgir e complicar a saúde da pessoa, e que serão responsáveis pela morte do paciente não tratado — explica o médico infectologista Eduardo Campos de Oliveira.
Por isso, quanto antes for feito o diagnóstico do HIV, mais cedo poderá ser iniciado o tratamento contra a aids. Isso tem acontecido em Santa Catarina, na avaliação da gerente de DST, aids e Hepatites Virais da Dive, quando avaliada a redução do número de casos e de óbitos pela doença no Estado. De acordo com os dados epidemiológicos, o número de novos casos de aids notificados em 2016 (1.600) é o menor dos últimos dez anos. O número de óbitos ocorridos no ano passado (515) também foi um dos menores da década — apenas acima do ano de 2012, quando foram registradas 495 mortes por aids.
Apesar dos dados positivos, SC apresenta a segunda maior taxa de detecção de aids do país, de acordo com o Ministério da Saúde, com 31,9 casos a cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Rio Grande do Sul, que apresenta taxa de detecção de 34,7. Em nível nacional, a taxa de detecção de aids é de 19,1. Em SC, 12 municípios participam do acordo firmado entre o governo estadual e federal para priorizar ações de prevenção e maior acesso ao diagnóstico de HIV/aids por apresentarem as mais altas taxas de detecção no estado. São eles: Balneário Camboriú (63,2), Itajaí (61,9), São José (57,7), Florianópolis (53,7), Palhoça (49,4), Lages (44,1), Criciúma (39,6), Blumenau (39,5), Brusque (35,0), Joinville (30,6), Jaraguá do Sul (29,3) e Chapecó (29,2).
Fonte: DC |