Drummond tinha razão, os partidos, ao menos no Brasil, deixaram de ser um espaço para defesa de ideologias e programas para se tornarem uma guerra de vaidades e projetos pessoais. No discurso, o modelo de sociedade ainda aparece, mas internamente e no processo eleitoral, os projetos têm menor valor, o importante é vencer as eleições e ter o seu espaço de atuação. O mais doloroso do processo democrático no Brasil, é que temos um povo com pouca educação política, o que complica ainda mais o debate e leva as pessoas a também buscarem seus objetivos pessoais. Portanto, a realidade dos partidos é resultado da sociedade que temos.



Bom, vamos ao jogo. Ninguém esperava. Essa é a frase que resume a sensação de todos os grupos políticos. Antes da sessão do Pleno do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE-SE) da segunda-feira, 19, não se ouvia de nenhum analista de situação ou oposição uma remota possibilidade de um resultado negativo para o governador Belivaldo Chagas (PSD), quanto de um resultado tão negativo, 6×1. Bem diferente do antes, o pós-cassação trouxe uma análise única e de todos os lados se ouvia: é resultado da falta de diálogo do governo. O resultado ligou as luzes amarelas de alerta para Belivaldo. A reversão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é possível, mas até lá o clima é outro.



O cenário político mudou. O governador ficou fragilizado, mas claro que tratou de reagir e não deixar a estratégia da “terra arrasada” se abater sobre o governo. “Não estou nem um pouco abalado”, declarou o governador em entrevista exclusiva na quarta-feira, 21, ao Jornal da Fan. Seu partido, o PSD não gostou da reação da oposição, e, em solidariedade, o deputado federal Fábio Mitidieri postou mensagem em suas redes sociais. “O incrível é ver uns urubus derrotados da política de plantão comemorando como se tivessem vencido uma eleição. Por atos como esses que vocês não vencem nada. Mas na oposição também existem pessoas de bem e que estão solidários ou no mínimo, respeitando o momento.”, disse Fábio.



Além de mudanças nas estratégias políticas, caso confirmada a cassação se tornará fato histórico e teremos pela primeira vez na história a intervenção da Justiça diante de denúncias sempre recorrentes de uso da máquina pública em Sergipe. Caso comprove sua inocência, reverta a decisão no TSE e permaneça no cargo, Belivaldo terá aptidão para uma candidatura em 2022? Essa é uma pergunta que muda todos os cenários.



E para 2020, vejamos algumas hipóteses de tantas outras que ocorrem nos bastidores e ainda não vieram ao conhecimento público.



Para Edvaldo, Belivaldo Chagas fragilizado, fragiliza seu objetivo de reeleição. A instabilidade jurídica pode levar o governador a não querer problemas políticos em 2020 e assim, não se envolver no processo eleitoral. Para O PT a dúvida do nome correto aumenta. Cassada, Eliane espera o resultado, podendo ficar sem mandato e sem força política para ser a candidata do agrupamento, disputa à Prefeitura de Aracaju, ou espera sua hora para um mandato federal em 2022?



Para a oposição, a cassação de Belivaldo também tem impactos. Vendo essas fragilidades, os partidos de oposição mudarão sua estratégia e se convencerão da necessidade de união para ter chances de vitória? Gilmar Carvalho antes de se tornar nome das oposições precisa resolver a questão do seu partido, fica ou sai do PSC? O Cancão está em dúvida para saber onde melhor viabiliza seu nome, ou está, como dizem alguns, tentando apenas fortalecer sua imagem e ao final valorizar seu apoio? Valadares Filho espera decisão do TSE ou disputa 2020? Emília Correia, Alessandro Vieira, Daniele Garcia e Milton Alves conseguirão viabilizar a chapa dos sonhos da “Nova Política”, ou irão para união das oposições diante dessa nova realidade? Rodrigo Valadares disputa com as bençãos do PSL e Bolsonaro, na capital onde o presidente perdeu a eleição?



Todas essas possibilidades são ainda dependentes dos objetivos pessoais de cada um dos atores políticos citados e o que norteará o pensamento de cada um deles, os projetos coletivos, ou o melhor momento para seus projetos pessoais na política? São muitas dúvidas e uma única certeza, a decisão do TRE-SE mudou a postura do governo, que num cenário desfavorável reavaliou certezas antes inabaláveis. Resta saber se Belivaldo manterá a equipe no foco da gestão e não perderá o controle dos indicados por aliados. O resultado do governo Belivaldo até junho de 2020 impactará diretamente no resultados das urnas.
NOTAS DA SEMANA



Entrevistas com vereadores

A sequência de entrevistas de vereadores de Aracaju no Jornal da Fan tem tido boa repercussão do público. A Câmara Municipal é o poder mais próximo do cidadão, seja nas suas necessidades cotidianas coletivas, seja das suas necessidades individuais, é para os vereadores que sobra o contato diário com o cidadão. Conhecer o que estão fazendo os 24 parlamentares da capital de todos os sergipanos tem sido uma oportunidade para mostrar que não só os parlamentares que ganham mais destaque na imprensa são os mais atuantes. Por vezes, aparecem mais os líderes da situação e oposição e os membros da Mesa Diretora, os demais por estratégia ou falta de espaço não aparecem muito na mídia. Se depender do jornalismo da Fan os aracajuanos conhecerão o que fizeram ou deixaram de fazer seus representantes.



Ética sem transparência

O Cidadania queria e o fez. Expulsou o vereador Palhaço Soneca que desde a chegada do grupo liderado pelo senador Alessandro Vieira, não demonstrou interesse em permanecer no partido. Foi a ‘faca e queijo nas mãos’, o momento propício, a deixa. No ofício enviado para o parlamentar e na nota enviada para imprensa poucos detalhes. Em parte da decisão tomada pelo Conselho de Ética está registrado que o pedido de afastamento cumpriu os critérios legais. Mas mesmo dentro da legalidade, o conselho afirma que este critério é a sociedade e que para ele interessa também o cumprimento do estatuto e dos valores. Ou seja, a impressão é que guiaram a decisão para uma análise subjetiva e não nos parâmetros e limites legais.



Rodrigo Valadares e seu silêncio ensurdecedor

Chama atenção a estratégia do deputado estadual Rodrigo Valadares (PTB/PSL) em silenciar após toda a polêmica troca de comando do PSL. Teria sido a medida não muito positiva e por isso é necessário deixar ‘a poeira baixar’, para se posicionar fora do calor das análises apaixonadas e da ‘metralhadora’ dos insatisfeitos com as mudanças? Os questionamentos de coerência política ao jovem deputado teriam incomodado? Nem em suas redes sociais ele tem se posicionado, apenas fotos de visitas a ministérios. Não, para não não ser injusto, houve sim uma quebra de silêncio, para postar um vídeo sobre a cassação de Belivaldo. O telhado de vidro do vizinho sempre chama mais atenção.



Inaldo apanha sem reação

Impressiona a incapacidade de reação nas redes sociais da equipe do prefeito de Nossa Senhora do Socorro, Padre Inaldo (PCdoB). Diariamente em diversos grupos são postadas críticas, que rapidamente viralizam em textos, imagens produzidas, vídeos editados, ou memes. A imagem de que Inaldo tem uma reeleição dificílima está se consolidando e não aparecem suas ações, sua militância não parece apaixonada pela gestão. Alguns membros da gestão, revelaram em off, que a estratégia de ter apenas um profissional de comunicação, no caso o jornalista Renato Nogueira, centralizando o comando das estratégias de comunicação e marketing naufragou e o prefeito ainda não percebeu. São diversos relatos de secretários e ex-secretários que faziam isoladamente postagens em suas redes sociais, as notícias da gestão não circulam, não há um ‘bom combate’ nas diversas redes. E o pior, todos dizem que vêem esforço e dedicação de Renato. O que estaria então acontecendo?



Amorim segue em silêncio

O ex-senador Eduardo Amorim (PSDB) permanece focado em sua atividade profissional. “Cuidando das dores das pessoas”, assim sempre ele diz. Nos bastidores se comenta que Amorim dificilmente consegue rearticular um grupo em seu entorno. Ele não fala sobre seu futuro político, nem confirma nem desconfirma. Comenta-se na possibilidade de disputar a Prefeitura de Itabaiana. Mas ao que parece, ele é candidato mesmo a continuar sendo referência na medicina, como uma dos mais renomados especialistas em dor do Brasil.