« Voltar
O curta metragem conta com música de Johnny Cash e Pink Floyd
A história é a seguinte: em janeiro de 1957, o escritor norte-americano Jack Kerouac escreveu uma carta a sua primeira esposa, Edie Parker – exatamente uma década depois de seu casamento ter sido anulado. É uma mensagem inspiradora, carregada de emoção, em que ele transmite, sob sua ótica messiânica, ensinamentos e descobertas sobre os significados da vida humana.
A carta reflete o interesse que Kerouac tinha na época pela filosofia zen budista, influenciado principalmente por um amigo, o poeta Gary Snyder, e por pensadores como Alan Watts, autor de “O Espírito do Zen” (1936), um dos primeiros manifestos do gênero publicados em solo americano.
Mais de cinquenta anos depois, o diretor espanhol Sergi Castella transformou as palavras de Kerouac em “We Were Never Born” (Nós Jamais Nascemos), vídeo de quatro minutos e ½ (feito em 2010) patrocinado pela fabricante de bicicletas catalã Dosnoventa Bikes. E mais: para pontuar o texto dessa carta, Castella ainda resolveu entrecortar o pensamento de Jack com duas canções estupendas: “Gonna Cut You Down”, tema de domínio público na versão inspirada de Johhny Cash, e “Time”, um dos carros-chefe de “The Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd.
Bom, o resultado é simplesmente de tirar o fôlego. Se todo o vídeo publicitário tivesse essa categoria, a TV poderia se tornar um veículo mais interessante.
Veja o vídeo abaixo que vale o clique mil vezes (com legendas em português).
Parte do texto da carta:
“Tenho um bocado de coisas para te ensinar agora, no caso de nunca mais nos vermos, relativas à mensagem que me foi transmitida embaixo de um pinheiro na Carolina do Norte em uma noite fria e enluarada de inverno. Diz-se que nada nunca acontece, então não se preocupe. É tudo como um sonho. Tudo é êxtase, no interior. Nós só não sabemos disso por causa de nossas mentes pensantes. Mas em nossa verdadeira essência da mente sabemos que tudo está certo lá dentro. Feche seus olhos, deixe suas mãos e terminações nervosas relaxarem, pare de respirar por 3 segundos, escute o silêncio que está por trás da ilusão do mundo, e você se lembrará da lição que esqueceu, e que foi ensinada na imensa e suave nuvem da Via Láctea inumeráveis mundos atrás e nunca mais depois disso. Tudo e uma só coisa desperta. Eu a chamo de Eternidade Dourada. É perfeito. Nós nunca realmente nascemos, nós nunca iremos realmente morrer. Isso não tem nada a ver com a ideia imaginária de um “eu” pessoal, outros “eus”, muitos “eus” em todos os lugares: “Eu” é apenas uma ideia, uma ideia de mortais, que ocorre a todas as coisas que são uma coisa. É um sonho que já acabou. Não há nada a temer e nada a agradecer. Eu sei disso por olhar as montanhas por meses a fio. Elas nunca mostram nenhuma expressão, são como a vacuidade do espaço. Você acha que a vacuidade do espaço irá algum dia desmoronar? As montanhas irão desmoronar, mas a vacuidade do espaço, que é a essência universal da mente, o vasto despertar, vazio e consciente, jamais desmoronará porque jamais nasceu.”
A carta termina com um poema:
“O mundo que você vê é só um filme em sua mente / Pedras não o veem / Abençoe e sente-se / Pratique a gentileza o dia inteiro e com todos e você perceberá que já está no Paraíso agora / Essa é a história / Essa é a mensagem / Ninguém a compreende / Ninguém a escuta / Eles estão todos correndo por aí como galinhas com cabeças cortadas. Eu tentarei ensinar, mas será em vão / E então irei acabar em um barraco / Orando e sendo legal e cantando na frente do meu fogão a lenha / Fazendo panquecas.” |