O espírito aventureiro fez o projeto vingar. Luíz era o responsável por montar as rotas da viagem. Audomir decidia o rumo e Luíz traçava o caminho usando os mapas da revista Quatro Rodas como guia. A única regra era não passar duas vezes pela mesma estrada.
Conhecer todos os mercadões do Brasil fazia parte do projeto de Audomir para melhorar as condições em Campo Grande. Das viagens, sempre trazia fotos e anotações do que poderia ser usado aqui. “Ele ia nos mercadões e conversava com todo mundo, sempre procurava o responsável pela organização e não saiamos de uma cidade sem ele ter visto tudo”, conta.
Luíz também atribui ao amigo a ideia de trazer o Camelódromo da antiga rodoviária para o centro da cidade, “Nas viagens ele notou que sempre ao lado do mercado municipal tinha um camelódromo, era igual em praticamente todas as cidades e isso ajudava a aumentar o fluxo de clientes dos mercados”.
Apesar da curiosidade de Audomir pelos mercadões, Luíz confessa que sempre burlava as ordens do patrão e seguia rumo aos pontos turísticos das cidades, principalmente, se tivesse praia. “Eu estava lá trabalhando, mas como era o único que dirigia ia direto para as praias ou parávamos para tomar banho de rio, meu interesse era turistar. Era o único momento em que ele ficava bravo, ele dizia que conhecia o cheiro dos mercados de longe, tinha cheiro de centro”.
A viagem mais longa foi de Porto Velho até Manaus e levou 52 dias. “Não tinha estrada e encaramos muitas horas de balsa. Torcendo para não afundar e caso afundasse, torcendo para conseguir nadar até a margem sem encontrar nenhuma sucuri ou crocodilo”. Apesar do teste de resistência, essa é uma das memórias mais marcantes que Luíz guarda.
Em 6 anos a dupla percorreu literalmente o País, do Oiapoque ao Chui, passando pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Belém, Recife, Natal,Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Piauí, Mato Grosso, Amazonas. Não necessariamente nessa ordem, já que foram muitos os lugares e tantos anos depois a memória falha um pouco.
Mas Luíz garante que a experiência dos dias na estrada não pode ser comparada há nenhuma outra coisa. “Não acumulei nada na vida, comprei pouca coisa, mas o que vivi não tem como colocar preço”, ensina.
Pouco antes de conhecer todos os mercados municipais da América Latina, a maior viagem que os amigos planejavam, o coração de Audomir não resistiu e ele morreu em 1999. Luíz ainda se lembra do roteiro ousado, que deveria sair do Brasil e ir até o Panamá. Uma aventura que ele ainda pretende realizar, desta vez em família. “Assim que eu parar de trabalhar vou comprar um carro, quero levar minha esposa e minhas filhas nos lugares que até hoje elas só ouviram falar. Depois, vamos de carro conhecer os países vizinhos, começando pelos que estão no Mercosul”.