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NOW WHAT ?!
“Now What!?” é definitivamente o primeiro disco da banda sem Jon Lord. Apesar dos velhos companheiros terem dedicado a nova obra ao mestre das teclas de marfim, a influência de Lord é a menor já apresentada em um disco da carreira da banda. Em “Bananas” (2003) e “Rapture of the Deep” (2005), mesmo fora do Purple, a sonoridade de Lord permanecia ali com força. Em “Now What!?”, Airey imprimiu, enfim, sua personalidade ao trabalho da banda.
Isso certamente será encarado por alguns como algo negativo. Prefiro encarar isso como algo ousado. Seria muito mais cômodo para os coroas ficar se repetindo para o resto dos seus dias. Não foi esse o caminho escolhido.
Essa nova banda se evidencia em boa parte das faixas, sendo muito perceptível principalmente em faixas como “Weirdistan”, “Uncommon Man”, entre outras. A marca de Airey está evidente, em especial, em “Out of Hand” e “Vicent Price”, faixa sombria que nos remete ao seu trabalho com Ozzy Osbourne em “Mr. Crowley”.
O velho Purple, no entanto, ainda está ali em trechos de “Après Vous” (um dos destaques do álbum), nos solos de “A Simple Song” e “Body Line”, para se ater a alguns exemplos.
Muitas das viúvas do Purple setentista apontam para a morte do grupo por conta também das transformações na voz de Ian Gillan. Isso é um fato: não esperem os agudos de “Child in Time” no novo trabalho da banda. Cobrar isso de Gillan seria no mínimo uma sacanagem com um senhor de 67 anos. A voz de prata talvez agora seja apenas de bronze, mas ela está longe de estar acabada. Gillan tem aprendido cada vez mais lidar com as novas características de sua voz. “Now What” é sem dúvida o seu trabalho vocal mais sóbrio, e mesmo com todos os recursos tecnológicos ao seu favor, pode-se dizer que o coroa está muito bem no álbum.
O mesmo não se pode dizer, no entanto, de Steve Morse. Esse é sem dúvida o seu trabalho menos inspirado com o Deep Purple. Não chega a ser decepcionante, já que o guitarrista traz alguns riffs interessantes, especialmente em “Body Line” e “Après Vous”. Porém, os solos são pouco criativos e seguem uma receita que o excelente guitarrista tem trazido como marcas registradas de seus trabalhos dentro e fora da banda. Há talento em Morse para incursões mais transgressoras.
Todas essas características serão pratos cheios para os profetas do apocalipse purpleano. Alguns deles terão razão em suas críticas negativas. Realmente, “Now What!?” não é um trabalho de encher os ouvidos. Mas também está longe de ser o trabalho que levará a banda ao seu fim. O espírito criativo do grupo segue aceso e eu, sinceramente, prefiro ver o Deep Purple produzindo álbuns desse nível do que não ter mais a oportunidade de ouvir novos trabalhos da banda.
“Now What!?” tem uma audição bem agradável, mesmo sendo claramente inferior ao que a banda fez de 1996 para cá. Mas se você achar o álbum ruim, recomendo que se farte com as porcarias que a indústria fonográfica enfia lhe goela abaixo o tempo todo. Eu prefiro ficar com os coroas.
Vida longa ao Purple!
01. A Simple Song 02. Weirdistan 03. Out Of Hand 04. Hell To Pay 05. Body Line 06. Above And Beyond 07. Blood From A Stone 08. Uncommon Man 09. Apres Vous 10. All The Time In The World 11. Vincent Price 12. It Will Be Me (Bonus Track)
Fonte: Resenha - Now What?! - Deep Purple http://whiplash.net/materias/cds/178438-deeppurple.html#ixzz2TCohq9JO |